sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O Lao é legal

No norte do sudeste asiático, praticamente espremido entre China, Mianmar, Tailândia, Camboja e Vietnã, há um pequeno país que talvez muita gente não tenha nem conhecimento. Um lugar muito especial, que ainda preserva a cultura e o estilo de vida de muito tempo atrás. Seu pequeno território é dividido entre florestas tropicais e plantações de arroz, o sticky rice, que é servido no estilo unidos venceremos e comido com as mãos, a base da alimentação do povo do Lao.

Isso mesmo, não escrevemos errado, Lao, como todos os locais chamam e como era originalmente chamado, até virem alguns franceses e colocarem um “s” no final que na nossa opinião não precisava. Agora o ponto alto mesmo é o Rio Mekong que divide Lao e Tailândia ao norte adentrando o interior do país até a fronteira com o Camboja, de onde parte para desaguar no Vietnã. O rio é um dos mais famosos do mundo e de extrema importância na região, seja pelo transporte, pesca ou turismo.

Chegando lá ficamos em dúvida entre fazer uma trilha pela floresta no norte do país ou seguir para Luang Prabang, uma cidade famosa por sua beleza, um pouco mais ao sul. Nossa ansiedade para desbravar o Mekong era tanta que ficamos com a segunda opção. Pegamos o slow boat (barco lento) que demora dois dias para fazer o percurso Mekong adentro com direito a uma noite num vilarejo dentro da floresta.

O barco era bem simples, cheio de gringos, a paisagem uma beleza e todo mundo estava mais interessado em provar a Beer Lao (a deliciosa cerveja local) e conversar do que reclamar dos bancos duros e põe duros nisso.

O primeiro dia foi muito legal, agora o segundo não foi bem assim. Enquanto o Preto se divertia com as comemorações do Dia do Canadá, eu (Aline) estava muito cansada (sem saber do que) e a tarde uma forte dor de cabeça (por que se nem tomei tanta Beer Lao assim?). Quando finalmente chegamos a Luang Prabang aconteceu. Febrão, mais de 40 graus de temperatura. Ai, ai, ai, e agora? Malária, Dengue? Febre por causa de quê?

Me entupi de paracetamol e resolvi esperar pra ver e evolução das coisas. No outro dia como me acordei melhor resolvemos sair para conhecer a cidade. Eu mal sabia que aquela seria minha única oportunidade para ver um dos lugares mais românticos da viagem.

Luang Prabang é linda, construída às margens do Mekong, no meio da floresta. Uma atmosfera única, com tantos monges, templos, cachoeiras e cavernas muitas das quais não vimos porque quando a noite chegou não teve jeito.

Febrão de novo que não baixava, dor alucinante pelo corpo, fraqueza, fiquei muito, mas muito mal. Só me lembro do Preto acionando o seguro para me levar pro hospital e daí pra frente meu corpo entrou no piloto automático, o qual não inclui memória.

Tenho somente alguns flashs de muito mal estar, vômitos, prova do laço positiva e sangramento. Não deu outra, diagnóstico dengue com tendência a hemorragia, quando minhas plaquetas atingiram o valor de 20.000 veio a transferência de avião para Vientiane, a capital do Lao. Na chegada ao hospital tive um encontro com uma auxiliar de enfermagem digamos pouco delicada e dessa eu não me esqueço. A mulher deve ter achado por acaso alguma veia na parte mais profunda do meu braço após furá-lo sei lá quantas vezes que nem um animal. O Preto disse que quase desmaiou vendo e que eu só chorava, mas vendo por esse lado se eu ainda tinha lágrimas era possível que tivesse alguma chance.

Aos poucos as coisas foram melhorando e após seis dias internada, cinco quilos mais magra e com uma coceira infernal pelo corpo (bom sinal) tive alta. É estranho pensar que ano passado no Nordeste o Preto teve dengue, dois amigos nossos que moravam conosco tiveram dengue, dei alguns plantões onde atendi mais de 50 casos de dengue em 24 horas e eu precisei vir à Ásia pra isso acontecer, a pior dengue com a qual já tive contato, a minha própria.

No final de tudo nas minhas orações agradeci por estar viva (acho que já disse isso anteriormente aqui nesse blog) e agradeço a todos que de alguma maneira torceram por mim, rezaram por mim, me mandaram energias boas. Com certeza elas ajudaram. Ficamos alguns dias em Vientiane, uma cidade que não tem cara de capital, ou alguém já ouviu falar em uma capital de 200.000 habitantes? Pois assim é Vientiane, tranqüila, quase sem trânsito, ruas amplas, situada às margens de quem? Do Mekong é claro.


Entre um passeio e outro a gente corria pra de baixo de alguma proteção e esperava a monção passar. Quem curtia mesmo eram as crianças que adoravam um banho de valeta. Atenção leitores brasileiros juvenis deste blog (se existe algum), não tentem isso em casa, principalmente no Cassino ou podem acabar mal.

Como eu já estava me sentindo melhor pegamos as mochilas, ou melhor, o Preto pegou as mochilas e seguimos para o sul. Pakse foi o nosso destino, cidade famosa por suas cachoeiras, situada onde? Não vou nem falar que às margens do Mekong, hehe.

Novamente um lugar tranqüilo, mas diferente de tudo que a gente já tinha visto até hoje. Os dois melhores momentos foram quando sentamos na beira do rio e brindamos com uma Beer Lao o fim do sufoco (eta cerveja boa) e a festa de casamento da qual participamos.

Estávamos a bordo da nossa motinho, retornando das cachoeiras e vimos uma festa na beira da estrada pela qual passamos bem devagarzinho. O pessoal nos chamou e fomos curtir a festa. Os noivos a gente não viu. Acho que eles haviam saído para fazer alguma coisa mais interessante. Agora legal mesmo é dançar no estilo Lao. As pessoas fazem uma fila, homens de frente para as mulheres, vão andando devagar mexendo só as mãozinhas. São muito tímidos, quase nem se olham e no final de cada dança agradecem aos parceiros no estilo asiático. Imagina se eles pedissem uma demonstração de danças típicas brasileiras, um sambão, um forró nordestino, um funk caioca, iam se apavorar coitados.

Seguimos para o sul em direção ao Camboja, após 4 horas de ônibus e mais um tempinho de barco fizemos nossa última parada no Lao em Si Phan Don ou Four Thousand Islands (Quatro Mil Ilhas). Um lugar incrível, onde o Mekong se dispersa em um grande emaranhado de canais, ilhotas e bancos de areia.

É meu amigo, não tem como, onde quer que a gente vá está lá o rio Mekong. Ficamos na Ilha Don Det, onde o turismo e a vida real convivem lado a lado. Nosso bangalô na beira do rio era simples e muito barato. Lugar ideal para relaxar, ler um pouco, pegar uma bicicleta e descobrir o que há lá de tão especial.

Cachoeiras, plantações de arroz, botos e o dia-a dia das pessoas que vivem ali. Aquela imagem que muita gente tem do Sudeste Asiático com casas construídas como palafitas é típica do Lao.

O engraçado é que a verdadeira área útil da casa é no térreo, ao ar livre, onde eles sentam, lavam a louça, fazem comida e descansam. A galera só se abriga mesmo para dormir, e olhe lá.

O que não tem comparação é a paz que reina no país. Em nenhum outro lugar durante essa viagem experimentamos uma sensação assim. Em especial em Si Phan Don parece que o tempo não passa, a calma de todo mundo e o sorriso de alguém que passa fazem a gente repensar o ritmo frenético que às vezes a vida toma. O negócio é desestressar e se alguém por acaso te incomodar tu já sabes o que fazer, mas não se preocupe, no Lao, isso é muito difícil de acontecer.

17 comentários:

Mari Mendoza disse...

Oi Aline! Que sufoco hein... pegar dengue logo no meio dessa viagem! Fico feliz que agora tu esteja bem!! Continuem aproveitando e se cuidem, sempre! Beijoca!!

Anônimo disse...

Oieeeee!! Gente, que lugar que deve ser bem legal.... Ainda bem que depois do susto, quer dizer, susto é muito leve, dos momentos de pavor mesmo... deu para curtir um relax na capital.... Bjão pra vcs!!!!!

Anônimo disse...

Moçadinha do Lao...Tudo muito bom, tudo muito lindo inclusive o Aedes aegipty, é esse mesmo ou é outra espécie?! Deve ser outra fdp... Força aí moçada e pode deixar que se eu ver uma criança tomando banho de vala vou falar que somente os cães podem fazer isso...
Abração e muita energia positiva pra vocês.
Wilson

Anônimo disse...

Oi amigos depois tempestade vem a calmaria, que bom né?!!Beijos e cuidem-se please!!!

Anônimo disse...

me esqueci de assinar...fui eu hehehheh

Anônimo disse...

Augusto e Aline, fiquei preocupada em saber que a Aline pegou dengue.
Se cuidem pois vocês estão em contato com florestas tropicais. Muito cuidado, eu achei voceês muito magrinhos.... Se cuidem. Beijos, Tia Lucia

Anônimo disse...

Augusto e Aline, tenho visto o seu blog, acho vocês muito corajosos! Beijos, Fernanda Helena

Leonardo Rios disse...

bah...que batalha! Que hora para pegar dengue, sorte que tudo correu bem e se recuperaram! Que horror deve ter sido! Limpeza e higiene com certeza não são as principais características do Laos! Não quero nem imaginar como deve ter sido este hospital! Mas pelo menos um final feliz e a viagem segue!
Pena que não deu para aproveitarem Luang Prabang, por ter sido a capital quando a França mandava na região, ela tem um charme diferente do resto!
Outra...comeram arroz frito com água do Mekong? Esse passeio que vocês fizeram de slow boat, eu fiz de speed boat! Demorou 8 horas apertadaço num bote, mas valeu!
Muitas Beerlao para vocês e até Angkor! O Khmer e o Bayon esperam vocês! Beijos e Abraços!

Anônimo disse...

Oii queridos!!!Amiga semana que vem vou mostrar p a vó Iracema o blog de vcs e deixar ela mandar uma mensagem, ok?!!Beijos!!

Anônimo disse...

E aí negrinha! Q susto foi esse?! De 6 dias internada...é MUITO bom saber q estás de pé novamente!!! Força para vcs pois ainda falta muito tempo...não é mesmo?! Saudades de ti querida! Um super abração e bjks staladas! Com carinho de quem tá sempre na área torcendo por vcs, Claudinha.

Anônimo disse...

E aí, Preto, tudo bom? Mas que azar duca a Aline pegar dengue logo aí no Laos? Desejo que vocês continuem com toda essa disposição e saúde durante o restante do percurso que, aliás, não é nada curto. Continuem com suas histórias. Tá legal paca.
Abraços
Chicão (Araçatuba)

Anônimo disse...

Oi!Eu d novo.. já estou louca para saber da Indonésia, vcs já devem estar por essas bandas né... Bjus!!!

Unknown disse...

Que saudadeeeeeeeeeeeeeeeeee

Anônimo disse...

Queridoss!!!
q bom que o sufoco passou!mandei muitas energias positivas daqui!!!
cuidem-se e....passem repelente!!!hehehe
saudades gigantessss!!!
bju o coração!!!
Tati

PS: te mandei e-mail...bjuu

Anônimo disse...

Ei gurizada!! Vou fazer um agradecimento geral porque estamos numa correria gigante nesses ultimos dias! Valeu pelos comentarios, pelas dicas e principalmente pelas vibes. A dengue ja era, agora pe na estrada novamente!!Beijos para todos e ate o proximo post!!

Augusto disse...

Tia Lucia, tem lugar que a comida 'e ruim e a gente passa fome. bricadeira. Mesmo comendo um monte fica dificil de pegar peso no ritmo que a gente anda.
Fernanda, corajoso 'e o Henrique que vai pro carnaval no interior de Minas.

Leo, Luang Prabang vale mesmo a visita. Eu ainda tive tempo de ir ao mercado de noite pra bater um rango e tomar umas beerlaos.

Wilson, cuidado com a vala que a vala te pega.

Chicao. to feliz pra caramba que vc tambem t'a acompanhando a gente. To sempre lembrando da boa companhia pra tomar uma gelada. Tu ia curtir a cerva do Laos, boa demais.

e pras meninas que nos acompanham, beijao. Valeu por estarem participando com a gente.

Grande abraco a todos,

Augusto

Augusto Araújo disse...

Olá velho, encontrei seu blog por acaso

o Laos tem uma triste história de submisssao ao comunismo

o Patet lao é uma versao do Khmer Vermelho

quando puder te mando algo a respeito, mas dá pra pesquisar na net

cuidado, nao faça as perguntas erradas por aí

abraços