terça-feira, 29 de julho de 2008

Norte da Tailândia com tudo que tem direito

O Rei da Tailândia é o cara. É o que todo aprendiz de político quer ser quando crescer. Segunda-feira é o dia que o povo sai às ruas com roupas amarelas para homenagear seu querido governante e como se não bastasse há fotos do homem espalhadas por todo país. Sério, é impossível andar 50 metros sem ver um painel gigante com a foto do rei, em toda casa que se entra está lá o homem. Depois de alguns dias tu já achas que ele é íntimo teu, ou o que é pior, que ele está te observando e sabe tudo o que tu andas fazendo.

Saímos de Bangkok rumo ao norte do país, a cidade de Chiang Mai. Ponto de partida para várias coisas que se imaginam sobre a Tailândia, passeios de elefante, mulheres pescoçudas, florestas tropicais. No entanto a primeira coisa que procuramos ao chegar foi um centro de meditação, no nosso caso o Wat Suan Dok, vinculado a universidade. Fazia tempo que estávamos interessados em experimentar a técnica vipassana, que prima por obter insights através da meditação. Geralmente os cursos são a partir de 10 dias, mas o nosso seria uma breve introdução. Três dias para parar um pouco, baixar a poeira da Índia e se concentrar na nova fase da viagem que está começando.

O primeiro dia foi muito legal, aprendemos várias técnicas para desacelerar e despoluir a mente e se concentrar no presente. Agora no segundo e terceiro dias foi bem mais difícil de atingir a tal da concentração. Acho que quando finalmente as coisas fluiriam melhor o curso acabou. Na segunda noite que dormimos no instituto, situado na entrada da floresta o Preto achou dois escorpiões dentro do nosso quarto. Fiquei feliz de ter escapado ilesa aos bichinhos peçonhentos mesmo andando de pés descalços e dormi tranqüila. Eu mal sabia que por aqueles dias eu teria um encontro com um mosquitinho preto e branco que fez um estrago danado, mas essa só vou contar na seqüência (próximo post).

O curso do Wat Suan Dok também trouxe surpresas boas, conhecemos pessoas muito legais com as quais nos encontramos vários dias na seqüência, muito boa a sensação de novamente ter um grupo de amigos. Saímos para comemorar o aniversário do Shiraz, uma figura, inglês com cara de indiano que já viveu no Brasil. Toda vez que ele nos via falava bem alto “Viva Brasil” e a gente respondia “Viva!”.

O cara se empolgou e bancou a festa pra todo mundo, rolou Aline na bateria, canja de gringos no microfone, festão. Ele não cansava de sugerir ao Preto para experimentar o que ele considera a mais autêntica e melhor massagem tailandesa, a happy-ending massage. Para quem não sabe é aquele tipo de massagem que após massagear o corpo do homem a mulher chega às partes que não costumam ser massageadas em massagens convencionais até que o homem alcance um final feliz.

Pois é, enquanto os túk-túks dominam as ruas, quem parece estar sempre com o taxímetro ligado são as meninas que povoam os bares e institutos de massagem da cidade e de vez em quando passam de mãos dadas com um gringo coroa se achando legalzão. Sinto muito meu amigo Shiraz, mas comigo por perto sem chance, experimentamos a tradicional massagem tailandesa, aquela que aperta, puxa, torce e diferentemente da indiana que relaxa, essa dói. E olha que legal, realizada pelas mãos experientes de pessoas cegas.

Ficamos um pouco perdidos com a quantidade de pacotes oferecidos na região. Para visitar a verdadeira tribo de mulheres pescoçudas refugiadas de Mianmar o trajeto era longo ou envolvia dias de trilha e um preço bem gordo. Acontece que o turismo na Tailândia não é fraco e eles trouxeram algumas famílias não só dessa como de diversas tribos para viver em vilarejos perto da cidade. O fato é que hoje existem diversas vilas de mulheres pescoçudas nos arredores de Chiang Mai, de acordo com o trajeto do pacote turístico em questão. E seja ela qual for, a original ou as demais, são todas essencialmente turísticas. Uma vez vi uma jornalista se referir a elas como um zoológico humano e infelizmente não consegui achar uma expressão que se enquadrasse melhor.

Ao chegar no vilarejo, há vários ateliês onde as mulheres ficam sentadas confeccionando lenços e tentando vender suvenires. E não é que elas são pescoçudas mesmo? Na verdade não é o pescoço que aumenta e sim o ombro que desce. Diz a lenda que elas começaram a usar argolas para se proteger de mordidas de tigres. A moda pegou e depois disso quem não fosse pescoçuda não era considerada bonita e não arranjava marido. O que dá dó mesmo são as crianças, algumas meninas tão lindas, bem novinhas e já começando o processo. Não tem como não pensar que de certa forma isso é uma violência com elas, que quando finalmente tiverem idade e discernimento para escolher já vai ser tarde de mais. As tristes meninas que se tornarão tristes mulheres pescoçudas Na tribo que visitamos ninguém ri, não vimos um só sorriso.

Na seqüência tivemos mais uma experiência pilotando elefantes, dessa vez sem intercorrências e muito mais legal. Nos embrenhamos na floresta e descemos pelo rio, os filhotes sempre acompanhando a comitiva, quando chegavam ao rio se jogavam na água e deixavam a correnteza levá-los.


Mas o mais legal do dia foi uma coisa que estava marcada para acontecer faz tempo e que pegamos de leve na Índia. Durante o nosso passeio de barquinho de bambu em meio à floresta tailandesa, num calor de matar eis que caem as primeiras gotas do que logo se transformaria num verdadeiro dilúvio.

As chuvas de monções! Não dá pra dizer que não assusta, ainda mais quando o nosso barco quis começar a afundar. Sempre que ouvíamos falar em monção pensávamos em chuva que não para mais, que faz um monte de estragos, por isso que só ficamos tranqüilos quando ela passou. Nesse momento tivemos que admitir que foi é bom pra aliviar um calor daqueles e dar um toque especial àquele momento “perdidos na selva”.

Antes de nos despedirmos de Chiang Mai novamente nos aventuramos pelo mundo da culinária. Fizemos o curso da Ban Thai, cada um preparou 6 pratos, todos deliciosos, dá só uma olhada. O meu preferido foi a salada de papaia verde apimentada. Delícia, aquele exótico que nem comida japonesa, que vicia. Ai, ai, pensei nela vários outros dias, pra falar a verdade continuo pensando até hoje.


Foi com um gostinho de quero mais que deixamos a cidade, um lugar muito alto-astral. Não esqueceremos dos desenhistas que são diversos e fazem um trabalho perfeito, de deixar a gente de queixo caído sem acreditar que se trata de desenho e não de foto. Não esqueceremos dos cachorrinhos que estão por toda parte, principalmente na porta de qualquer estabelecimento. Os monges budistas caminhando pela cidade e recebendo alimento das pessoas pela manhã. As deliciosas comidas de rua, todas embaladas em saquinhos. Até a sopa vai pro saco e é presa com uma borrachinha.

Rumamos para a fronteira com o Laos e retornaremos para a Tailândia, dessa vez para as praias do sul após percorrermos os outros países do Sudeste Asiático. Agora é a vez da Indochina.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Com vocês, a Tailândia.

Chegamos à Tailândia! Ou será que a definição melhor seria saímos da Índia? É difícil dizer, o que sei é que o vôo Mumbai Bangkok é um verdadeiro tele-transporte de volta ao mundo real. Nosso primeiro passeio no novo país foi digamos estranho. O que nos chamou a atenção não foram as atrações tailandesas e sim a ausência das coisas que já estávamos acostumados na Índia, a final, foi um mês por lá.

Andar pelas ruas da capital e não ouvir nenhuma buzina, ninguém te chamando, te oferecendo nada, te perguntando nada, nenhuma vaquinha, nenhum cocô??!! A gente olhava em volta quase de boca aberta e depois se olhava e não precisava falar nada, era óbvio que a gente estava pensando na mesma coisa. Estava dando quase vontade de se meter na frente do trânsito pra ver se pelo menos assim ouvíamos algum barulho e até que enfim escutamos o primeiro “Túk túk, sir?”. Ah que alívio, já estava dando até medo.

Pois é, na Tailândia os famosos auto-rickshaws são um pouquinho maiores e recebem o nome de túk túk. Estão por toda parte, de vez em quando alguém de aborda para oferecer, mas muito mais de leve que na Índia.

O importante é não dar atenção e principalmente não acreditar. Bangkok é uma verdadeira máfia dos túk-túks, que parecem estar todos interligados entre si e com algumas atrações turísticas. E uma coisa é fato, eles mentem e mentem muito.

Ah, e se alguém que tu não conheces por acaso te abordar na rua, mesmo que pareça um cidadão normal disposto a dar informações para um turista recém chegado, é bom ficar esperto. Pode ser que tenha um túk túk escondido ali por perto, ou que ele seja um aliciador de turistas para seu amigo motorista, hehe.

É sério, não dá pra dar mole porque se embarcar vai perder uma grana. Dessa a gente se safou, mas foi por pouco. No nosso caminho para atravessar o rio a vendedora de comida de rua (membro da máfia) nos disse que era melhor a gente não ir lá esse dia, que o preço para atravessar era 100 vezes (tipo 10 centavos pra 10 reais) mais do que realmente era... que estavam rolando algumas outras coisas de graça especificamente no dia em questão. O esquema e a lábia são tão bons que tu quase embarca.

Só que a gente tem uma arma da qual vamos ter que falar. É um livrinho que a gente carrega pra cima e pra baixo e se chama Lonely Planet, o guia de viagem. Nas nossas andanças pelo mundo a gente encontra muitos viajantes, fazendo pequenas e grandes viagens, muitos deles com o mesmo guia e outros não. Tem a turma do “eu abomino Lonely Planet”, que olha pra gente com preconceito, dizendo que eles gostam de deixar as coisas rolarem. Nós também, adoramos as coisas boas que acontecem sem a gente ter programado, gostamos de fazer tudo da maneira mais simples possível e sempre estamos atentos às dicas de quem esta viajando.

Mas não podemos deixar de dizer da mão na roda que foi ter o guia conosco sempre, principalmente na Índia, com todos os contatos de cursos confiáveis e horários de trens. Foi assim que quando a mulher tentou nos enganar, a gente abriu o livro, verificamos que o preço que ela estava nos falando era absurdo e nos safamos de entrar na roubada. A gente diz isso porque achamos mais fácil nossos amigos viajarem para cá do que para a China, por exemplo. Então quem vier, se puder comprar o guia de cada país vai estar fazendo um bom investimento. Estamos nos virando com o do Sudeste Asiático que algumas vezes já nos deixou na mão. E se tem um lugar no mundo onde o perrengue está sujeito a virar roubada é aqui.

Mas, falando de Bangkok, é um cidadão, toda entremeada de rios, legal a cidade. Todos os pontos turísticos mais famosos merecem sim uma visita, porque são realmente muito bonitos. O Wat Phra Kew, onde está o famoso Buda de esmeralda (que não tem mais que um metro de altura), o Grand Palace, O Buda Deitado e o Museu Nacional são todos bem pertinho um do outro, ou seja, dá pra fazer tudo a pé em um dia e ainda dá tempo pra atravessar o rio e ver o Wat Arun do ouro lado.

Os templos daqui com certeza foram alguns dos mais bonitos que já vimos. A grandiosidade parecida com a chinesa, mas com a arquitetura muito mais delicada e diga-se de passagem, muito mais cuidada. Ah, e não dá para esquecer que em dia de visitar templos e palácios tem que se sair muito bem coberto, nada de tomara que caia, blusa de alcinha ou camisa sem manga para os homens. Azar o calor, alguns poucos lugares providenciam a roupa adequada, o ideal á ir pronto ou levar na bolsa, se não corre o risco de perder o passeio.

No Sudeste Asiático em geral eles são muito preocupados com as coisas que segundo seus costumes podem desrespeitar a religião ou a cultura. Além do exemplo das roupas tem a questão da cabeça e dos pés. A cabeça é considerada o topo de uma pessoa, sua parte mais sagrada, portanto é de extrema má educação tocar na cabeça de alguém (cafuné em público, pode esquecer). Já os pés são comparados ao chão, é um desrespeito tremendo apontar a sola do pé pra alguém, e acreditem essa é a parte mais difícil de cumprir. Não é por mal, assim como eles estão acostumados a sentar de cócoras e na posição de lótus, nós ocidentais estamos acostumados a sentar no chão e pelo menos de vez em quando dar uma esticadinha nas pernas. Sendo assim o que acaba acontecendo? Sola do pé na direção do Buda. Na direção do Buda de Esmeralda, no meu caso (Aline), o que é pior, mas depois de levar algumas mijadas as coisas melhoram, hehe.

O centro de Bangkok é um aglomerado de shoppings e por lá passa o famoso Sky Train que pegamos para chegar ao Chatuchak Market, um dos maiores mercados do Sudeste Asiático. É, respire fundo e se controle. A esse é difícil de resistir, principalmente para a mulherada. Resumindo: dá vontade de chegar e comprar tudo, cada roupa, cada lenço, cada bolsa mais bonita que a outra. De acordo com a qualidade as coisas vão aumentando de preço, mas dá pra dar uma pechinchada.

Outro lugar pitoresco da cidade é a Khao San, uma espécie de rua 24 horas, onde estão a maioria das guest houses e onde todos os turistas vão parar. O lugar é um inferninho, 80% são bares, o resto é Burger King, 7 eleven, lojas de roupas, agências de turismo, cabeleireiros especializados em dreads, e banquinhas de comida de rua. Tudo feito para a galera não sair dali, só falta a redoma. Dá a impressão de ouvir uma voz dizendo: fique aqui, compre aqui, consuma aqui, e acreditem, é difícil, mas é possível sair. A rua não para mesmo, 5 da manhã o barulho continua seja que dia for e o turismo sexual rola solto por ali.

A gente queria porque queria conhecer o mercado flutuante, uma das primeiras coisas que nos vinha a cabeça quando pensávamos na Tailândia. Outra opção legal era a ponte do rio Kwai, que foi uma ligação estratégica entre Tailândia e Birmânia (atual Mianmar), destruída na Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez em nossa viagem optamos por um pacote. Seria mais rápido e confortável por cerca do mesmo preço que ir por conta própria. Acontece que o pacote incluía o transporte até um lugar chamado Tiger Temple, onde a entrada era opcional. Os cartazes mostravam um lugar muito especial, administrado por monges que viviam em sintonia com tigres. A gente viu o cartaz, mas decidiu que não iríamos entrar.

Chegando lá aquela história, já que estamos aqui vamos conferir. Um lugar muito estranho, meio em construção ainda, cheio de gente que rapidamente te botava no esquema sem dar tempo pra ti pensar. Passando de tigre em tigre enquanto eles tiravam fotos de ti encostando no bicho. Vários tigres, meio sonolentos, sendo alguns filhotes outros adultos.
Templo, não tinha nenhum, monge a gente só viu um, ou pelo menos um cara vestido de monge sentado num canto lendo jornal. Só deu tempo pra fazer uma pergunta antes da van sair “esses bichos estão drogados?”. A guria que se dizia voluntária no lugar disse que não, que eles estavam assim porque tinham recém se alimentado...sei.

Olha, essa foi a primeira vez que a gente se arrependeu de ter feito alguma coisa nessa viagem, por um lado não é mau porque lá se vão quase 5 meses. Por outro lado gostaríamos muito de saber que tipo de lugar é esse. Não é dada nenhuma informação sobre os animais, de onde vêm esses tigres, qual o propósito da criação, se há algum programa de preservação da espécie ou se dopam os animais para os turistas tirarem fotos com eles. E como forma de protesto não colocaremos foto de tigre coisa nenhuma aqui no blog.

A ponte do Rio Que Cai (Kwai) é num lugar muito bonito, mas não é nada mais que uma ponte. O resto é história. Agora o mercado flutuante, vale a pena! Chegar cedinho e ver as pessoas que vivem nas redondezas em casas flutuantes, passear de barquinho e depois andar pela volta. É mega turístico , tem até engarrafamento no rio, mas nem por isso deixa de ser legal. Com vocês um pouquinho mais desse cartão postal da Tailândia.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Yoga, Culinária e Bollywood

Desde que começamos a postar o blog a Aline sempre se comprometeu em escrever as histórias que vocês vêm acompanhando e gostando tanto, mas desta vez a narrativa será feita por alguém que tem literalmente ficado por trás das câmeras. Eu, Augusto, que tenho ficado mais por conta das fotos fiquei com vontade de passar um pouquinho pra vocês desse mês que passamos na Índia. Um lugar surreal, onde coisas inesperadas acontecem a todo o momento, de muitos contrastes, aromas e fedores, da beleza e das cores ao lado da pobreza e da sujeira. Onde o triste se mistura com o feliz e o engraçado tornando-se caoticamente interessante.

Depois de relaxar com massagens em Pushkar resolvemos tomar rumo ao sul e ir para Udaipur. A cidade que fica à beira de um grande lago abriga diversos palácios de marajás. O mais famoso e bonito deles fica no meio do lago e hoje se transformou num luxuoso hotel. O Palácio Flutuante fez sua fama ao ser o principal cenário do filme de James Bond, 007 Octopussy.

Em muitos restaurantes da cidade o filme é passado todos os dias na hora da janta e é claro que não iríamos perder a oportunidade de assisti-lo comendo uma boa comida indiana. O mais interessante é que vendo o que foi gravado no início dos anos 80 e comparando com o que se vê hoje parece que as coisas na cidade continuam as mesmas. Acho que a única diferença seriam as pessoas falando com seus telefones celulares.

Udaipur também é famosa por oferecer bons cursos de culinária e yoga. O Yoga que hoje é muito popular no Brasil é originário e bastante praticado na Índia e em quase todas as cidades é possível encontrar boas escolas das mais diferenciadas técnicas. Para conferir uma prática autêntica procuramos o Ashtang Yoga Ashram, um renomado centro de yoga que oferece aulas e cursos recebendo por donativo. A primeira aula foi bastante convidativa e depois passamos a freqüentar o centro duas vezes ao dia durante toda nossa estadia em Udaipur.

Depois de um tempo na Índia apreciando a boa comida decidimos fazer um curso pra aprender como utilizar as especiarias. Apesar da maioria dos ingredientes também serem encontrados no Brasil eles são utilizados de forma muito diferente o que acaba conferindo à comida indiana sabores bastante exóticos. O curso da Spice Box foi bem didático e em uma tarde aprendemos alguns segredos dos temperos além de sair da aula passando mal de tanto comer a comida que a gente mesmo fez.

Muitos dos produtos consumidos na Índia, principalmente roupas, comida e jóias são produzidos na mesma loja em que são vendidos, além de serem confeccionados aonde o consumidor possa ver o processo de criação. Então se você não gostou de nada que tenha na prateleira ou quer fazer algo estilizado é só pedir pro comerciante do jeito que você quer e pegar no outro dia.

Nesse esquema as crianças aprendem desde cedo as técnicas utilizadas por seus pais e ficam sempre por perto vendo como os mais velhos lidam com o comércio. É impressionante ver a capacidade do jogo da venda de algumas crianças. Uma situação em especial aconteceu em Udaipur quando a Aline estava procurando um modelo de brinco e nem se deu conta do que estava acontecendo. Ao passarmos em frente à loja de pratas ela foi atendida por uma garotinha de aproximadamente 11 anos, que com um bom papo lhe ofereceu vários modelos diferentes.

Enquanto ela tratava com a garotinha, seu irmão que não tinha mais do que 4 anos estava dispondo vários outros modelos sobre o balcão e tentando chamar a atenção para que ela visse os que ele tinha para oferecer. Durante todo esse tempo o pai, que ficou sentado no canto da loja só observando olhou pra mim e soltou um sorriso maroto como quem queria dizer que seus filhos estavam no caminho certo e iriam se tornar bons vendedores.

No nosso último dia em Udaipur estava acontecendo um festival hindu. A cidade ficou lotada e todos os mendigos da região se sentaram nas ruas com cangas estiradas no chão para receber as doações de alimento e de roupas.

Quase todo mundo da cidade tirou o dia para fazer orações no templo destinado à Jagannath, O Senhor do Universo e sair às ruas para doar. O mais estranho é que não se doam pacotes de comida, mas se atiram um pouco de cada coisa pra cada um. No meio da bagunça também passamos por algumas estações onde se davam iogurte e suco e nessas até a gente acabou se beneficiando.

Nossos dias de Rajastão terminaram e seguimos para Mumbai. Uma cidade gigante, uma grande mistura de tudo, com bastante influencia inglesa, com islã e hindu, moderna, rica e pobre, além de ter mais de 16 milhões de habitantes. Bem diferente de tudo o que a gente tinha visto até agora na Índia.
Conhecemos quase toda a parte sul da cidade a pé em apenas 2 dias, ou seja, muita caminhada.

Indo em direção à praia de banho Chowpatty Beach passamos pela orla e ficamos horrorizados com a quantidade de lixo na areia e no quebrar mar. Os corvos, pássaros que dominam a cidade, se alimentavam dos restos de comida enquanto alguns mendigos procuravam alguns valores no meio da sujeira. É triste ver que tanto lixo vai parar assim no mar, destruindo com um ambiente que deveria ser muito rico e bonito antes da cidade se tornar um monstro.

Da praia partimos para uma zona mais periférica onde se encontra o Baganga Tank., um grande buraco cheio de água onde supostamente o deus Rama marcou o centro a Terra. Imagina a importância do lugar!!! Lá o pessoal se banha, escova os dentes e lava roupas, todo mundo feliz por estar num lugar sagrado. Falando em feliz, quem tava impossível era a Aline, que tinha finalmente conseguido comprar um sari bonito e barato. Toda toda desfilando com seu pano enrolado. Mas a alegria não durou muito e no mesmo dia ela conseguiu rasgar e sujar o vestido com cocô de vaca. Marinheira de primeira viagem e sem prática não conseguiu controlar seu pano esvoaçante de 6 metros de comprimento.

Enfim um grande momento esperado na Índia, o dia em que viraríamos estrelas de Bollywood. Hoje a indústria cinematográfica indiana tornou-se a maior do mundo e produz mais de 900 filmes por ano, com mais espectadores que a de Hollywood. Logo na chegada ao albergue fomos abordados por um caça figurantes que nos convidou para participar como extra na gravação um filme e ainda ganhando o suficiente para passar um dia bem gastado em Mumbai.

Lógico que aceitamos e a emoção tomou conta ao vermos que participaríamos de uma produção bollywoodiana. No dia combinado pegamos um ônibus lotado de turistas para o suposto estúdio de filmagens que na verdade era uma fábrica barulhenta. Depois de quase um dia todo de chá de cadeira e sem nenhum ensaio nos chamaram para assumir nossos postos de platéia de um super-astro pop. O palco estava cheio de meninas ocidentais usando fantasias e perucas coloridas muito toscas e de repente eis que entra em cena o grande astro.

Bem chatão, não falava com ninguém, não dava um sorriso e parecia que estava sofrendo por estar ali. A cada tomada a estrela tinha que refazer o penteado . Mexia, mexia e continuava a mesma coisa, se achando o lindo, o que fez o pessoal dar muita risada. Enfim o momento esperado. Quando finalmente rodaram a cena fomos à loucura, fingindo que éramos fãs fanáticos do cantor indiano. Nosso dia de celebridade não foi exatamente como esperávamos, mas no final das contas foi no mínimo engraçado. Quem quiser se aventurar pelo cinema indiano, não deixe de baixar da internet o filme Om Shanti Om. Além de ser cômico e muito bem produzido é estrelado pelo rei de Bollywood Shah Rukh Khan e conta com várias outras figurinhas carimbadas do cinema indiano. Outras dicas: Devdas e Jodah Akhabar (que mostra os fortes de Agra e Amber, com a mega star Aishwarya Rai).

Outro hábito que os homens indianos têm é de mascar tabaco ou umas trouxinhas feitas com uma folha recheada. Eles enfiam aquilo no canto da boca e ficam cuspindo uma baba vermelha no meio da rua. Durante todo esse tempo eu tive vontade de experimentar aquilo mas não tinha coragem, pois os dentes dos caras que curtem a coisa são bem podres e manchados.

Mas não teve como, em Mumbai vi um cara fazendo umas trouxinhas bem especiais. No meio dos pedidos percebi que ele tinha feito uma sem o tabaco e pedi uma igual. O tal do pacote verde foi uma bomba ao entrar na boca. Uma explosão doce difícil de conter. Acho que nunca tinha comido algo tão doce e que me fizesse salivar tanto. O pior era que aquilo era grande e eu não conseguia falar nada, só ficar sugando o caldo. O pessoal na rua ficava rindo da minha boca cheia e achando legal que eu, estrangeiro tinha experimentado.

Depois foi a vez da Aline também tentar um, só que ela não conseguiu conter a bomba doce e acabou se babando toda.
E pra fechar a Índia em grande estilo, acabamos presenciando aquilo que eu tinha ido preparado pra ver e ainda não tinha visto. No mesmo dia vimos 3 homens soltando o barroso no meio da rua. Isso mesmo!!! Bem tranqüilos agachados e mandando ver suas necessidades na frente da galera. Um na praia e os outros na calçada. Por umas dessas ninguém merece passar.

Mas é assim que é lá e assim foi nossa passagem pela Índia. De alegrias, tristezas e muito aprendizado num lugar de tantos contrastes e extremos, que parece ser um mundo à parte do nosso.Um dia um indiano nos abordou na rua e disse que INDIA significa I’ll Never Do It Again (eu nuca farei isso de novo) e embora apesar de tudo o que vimos e vivemos, o lugar é tão diferente e interessante que a deixamos com saudade e já pensando numa próxima viagem pra viver um pouco mais dessa insanidade.
Uaaaaaaaahhhhhhh...