domingo, 14 de dezembro de 2008

Andando na Terra Santa

Chegamos a uma etapa da viagem que rendeu boas discussões. Desde o início era um lugar pra onde eu (Aline) queria porque queria vir. O Augusto, no entanto era mais receoso devido a tanta coisa que víamos nos jornais e pelo fato de termos planejado nossa chegada aqui com muita antecedência.

Ou seja, não tínhamos como saber se quando finalmente chegasse a hora do Oriente Médio as coisas por aqui estariam tranqüilas ou homens-bomba estariam explodindo nos territórios palestinos. E assim ficou tudo meio em aberto deixando a decisão de qual seria nosso itinerário na Terra Santa para a última hora.

A situação é complicada demais para explicar aqui em poucas palavras, mas pelo que a gente entendeu dois dos principais habitantes da região brigam pelo território entre si. Muçulmanos descendentes de árabes e judeus (vindos principalmente durante o período das guerras mundiais). Os árabes não reconheceram de jeito nenhum a formação do Estado de Israel, atacando-o um dia depois de sua formação oficial. Muitos dos muçulmanos que viviam na região fugiram em busca de segurança e com a vitória de Israel não puderam voltar para as terras em que moravam passando a viver em países vizinhos como refugiados ou em territórios restritos dentro de Israel.

Os palestinos não se decidem pela formação de um estado palestino-árabe, pois assim estariam limitando seu território e a possibilidade de anexar mais terras, enquanto isso Israel se arma e controla as fronteiras com a Faixa de Gaza e Cisjordânia. E de vez em quando alguém resolve se explodir com tudo em volta. O conflito já dura anos e parece que não tem hora marcada para chegar ao fim. Sempre que um lado se sente atingido é muito provável que queira revidar. Quem sofre com isso são os civis tanto de um lado quanto de outro, porque no final das contas são todos seres-humanos e acreditam em Deus independente do nome que dão a ele.

Algo que no meio a tanta coisa se transforma em um pequeno detalhe, pequeno mesmo, porque quem vive lá não dá muita importância pra isso é que Belém na Cisjordânia é o local onde Jesus Cristo nasceu. Jerusalém em Israel é onde ele viveu, foi crucificado e ressuscitou, ou seja dois lugares super-sagrados para o cristianismo e Igreja Católica. O mesmo Jesus para o qual foram construídas inúmeras Basílicas sofisticadas cheias de ouro das Américas na Europa. Mas calma, ainda tem muito chão até chegar em Jerusalém, ainda nem saímos do Egito.

Antes de entrar no meio da confusão decidimos prestigiar uma figura que é importante e profeta para as três religiões, o Moisés. Nos dirigimos ao Monte Sinai não na tentativa de receber os 10 mandamentos e sim de ver um nascer do sol inesquecível. Mas como chegar ao topo do Sinai (segundo maior pico do Egito) antes do nascer do sol? Só subindo na madrugada, oba uma dessas a gente ainda não tinha encarado.

Trilha subindo montanha de madrugada, cercados de beduínos e camelos, temperatura se aproximando dos 0 graus é bem assim que a gente gosta. Principalmente se várias estrelas cadentes nos acompanham pelo caminho e o visual lá de cima é...bem, sem palavras, ta aí pra quem quiser ver.

Da península do Sinai seguimos para a fronteira entre Egito e Israel e de lá para o Mar Morto, que fica na região mais baixa do planeta, a cerca de 417m abaixo do nível do mar. Nosso passaporte foi marcado com o carimbo de Israel e por causa disso agora não podemos mais entrar na Síria, Arábia e Líbano usando o mesmo.

Paramos em Eingedi para nos banhar, ou melhor, boiar nas águas salgadas do Mar Morto. A água é muito salgada, bota salgada nisso, chega a arder e assim que seca esfolia a pele, é só andar 50 metros pra se assar todo.

Não precisa nadar, pode entrar na água, cruzar as pernas e os braços que bóia de qualquer forma. Experimentamos a famosa lama que é vendida sob a forma de cosméticos a um preço mais salgado que o próprio mar só que para nós não custou nada. Lama milagrosa, com certeza depois dela ficamos muito mais bonitos!!!

Desde que se coloca o pé em Israel já é possível sentir o clima. Tem que explicar direitinho de onde vem, pra onde vai, passar bagagens no Raio-X duas vezes, abrir bagagens e tirar tudo pra fora, tudo isso sempre cercado de jovens armados.

O serviço militar é obrigatório por 3 anos aos homens e 2 às mulheres, sem exceção. Então chovem jovens fardados e armados pra tudo que é lado e além disso muita gente também tem porte de arma. Conclusão: dá até medo porque onde quer que tu olhes tem um cano de revolver, tomara que não na tua direção.

Em Jerusalém não é diferente, mas o que mais chama a atenção são os judeus ortodoxos. Tem uma parte da cidade em especial que é quase que uma bolha, só se vêem eles, todos praticamente iguais, calça e casaco pretos, camisa branca, corte de cabelo curto com cachos compridos nas costeletas e chapéu. Ficamos hospedados na casa do Noam e da BatSheva, um casal judeu que nos respondeu um zilhão de perguntas que a gente tinha sobre o judaísmo e toda situação da região.

Visitamos também o Museu do Holocausto Yad Vashem no qual entramos mudos e saímos calados depois de ver com detalhes o horror que aconteceu com essa gente durante a Segunda Guerra Mundial onde aproximandamente 10 milhões de judeus foram mortos. Com tudo isso dá pra tentar começar a entender essas pessoas com roupas e cabelos que a primeira vista parecem estranhos, mas que na verdade são réplicas fiéis dos trajes que eles usavam na Europa nos tempos de guerra. Ou seja, uma maneira de dizer que eles resistem apesar de terem sido vítimas de uma tentativa de extermínio.

Jerusalém é território israelense, Belém é território palestino, poucos quilômetros e uma rígida fronteira separam as duas cidades, no entanto cada uma parece pertencer a um mundo diferente. Belém é uma típica cidade árabe muçulmana oriental, aproveitamos uma tarde para visitá-la e conhecer o local que acredita-se ser onde Jesus Cristo nasceu. Uma estrela dourada no chão marca o lugar exato dentro da gruta sobre a qual hoje existe uma igreja.

De volta a Jerusalém, ou melhor, a antiga Jerusalém, cidade murada separada em quatro quadrantes: um armênio, um muçulmano, um judeu e um cristão. Visitamos o Muro das Lamentações na parte judia, com espaços separados para homens e mulheres e milhões de papeizinhos com pedidos, orações e agradecimentos enfiados nos vãos entre as pedras.

Na parte cristã subimos o Monte das Oliveiras e estivemos onde Maria nasceu, no local da última ceia, na gruta onde Jesus foi traído por Judas e preso, acompanhamos o trajeto da Via Crusis até o lugar onde supostamente houve a crucificação e a ressurreição. Ao mesmo tempo que todo esse trajeto é sensibilizante existe sempre aquele ar de pode ser que não seja bem assim já que se sabe que a Jerusalém de dois mil anos atrás não é a mesma de hoje. A cidade era menor e várias outros blocos foram construídos sobre as construções originais, além disso os muros foram expandidos algumas vezes.

A gente sabe que tem muito comércio em jogo, já que a Via Sacra passa por um grande mercado de souvenires, mas mesmo assim a parte antiga de Jerusalém vale a pena.

Muito da parte nova tem cara de ocidente, todo mundo fala inglês além de hebráico. O custo de vida é alto e dizem que muita grana vem dos judeus americanos para sustentar as forças armadas. Conversamos com alguns jovens locais e contamos nossas experiências refazendo o trajeto de Cristo, após notar uma certa indiferença ainda deu tempo pra uma última pergunta antes de seguirmos o nosso rumo. “Como vocês enxergam Jesus?” A resposta veio assim: “foi só um cara que veio e fez uma baita bagunça.

Dessa forma fechamos mais um capítulo da nossa viajem. Novamente abordando questões religiosas e como elas influenciam a dinâmica do mundo. Aproveitando para dizer aqui que na nossa opinião as crenças de cada um não justificam preconceito muito menos violência. Paz no Oriente Médio.

8 comentários:

Leonardo Rios disse...

Show de bola! Mais uma aula de história! Abraços!

Anônimo disse...

Oiê,
É mesmo, que aula, vou até ler d novo hehehehe Bjs a vcs!!!!!!

Mari Mendoza disse...

É incrível a maneira como vcs expõem o que estão vendo e sentindo.. dá prazer em ler, e reler várias vezes!!
Adorei o post de hoje! Bjs!

Anônimo disse...

Muito bom o post, hein?!?!!
Irado!!!
beijos grandessss

Anônimo disse...

Valeu gente!!
Se vcs dizem que o post esta bom, mas as historias que ele conta...
Um beijo para todos!

Unknown disse...

E agora, por onde vocês andam?
Estou louca pra ler mais notícias dessas peripécias de vocês...
Saudades!
Se cuidem!
Beijo grande, Marcelinha

Anônimo disse...

Aline e Augusto, quero parabenizá-los pelo blog e dizer que é muito estimulante encontrar brasileiros que batalham e se interessam em conhecer outras culturas. No próximo ano darei inicio a minha volta ao mundo e confesso que tenho muitos planos, porém, acho interessante tambem deixar a vida conduzir alguns destinos e rotas. Desejo a vcs sorte e sucesso em suas andanças. Um abraço.
Wanderlei
www.wandelua.blogspot.com

Anônimo disse...

Wanderley, preciso de seu email e telefone. Comprei um imóvel seu em Campo Grande/MS em 14/09/1991 e preciso da outorga da escritura. Grato.

Jose Antonio Nunes Farias
067- 9962-1432 - marli.farias@agu.gov.br