domingo, 1 de junho de 2008

Momentos no Himalaia

Nosso dilema: ficar no Nepal e fazer uma trilha longa, sacrificando uns bons dias do nosso próximo destino, a Índia ou optar por uma trilha curta e seguir viagem. Nossa decisão: as duas coisas! Pensamos e repensamos, a final a gente estava em pleno Nepal, não queríamos apenas ver as montanhas mais altas do mundo, queríamos subir nelas. Sabe-se lá quando teríamos uma oportunidade como essa de novo. Mas sacrificar a Índia, pela qual esperamos tanto? Sem chance. Trocamos todas as nossas passagens e mudamos os planos da viagem mesmo sabendo que monções nos aguardam pelo caminho.

Escolhemos o Annapurna circuit trek. Considerada uma das trilhas mais bonitas e ricas culturalmente do Nepal. São cerca de 200 Km circulando os Annapurnas, montanhas em torno de 8000 m de altitude. O ponto alto da trilha é a passagem Thorung La, considerada a maior passagem do mundo com mais de 5000 m de altitude. A gente tava muito empolgado, um pouco ansiosos também a final toda hora morre alguém por lá com o tal “mal de montanha”.

Na verdade a galera não se cuida, quer subir o mais rápido possível sem respeitar as regras de aclimatação e acaba com edema pulmonar ou cerebral. Mas a gente conversou bastante e nos comprometemos a fazer tudo direitinho para não estragar esse momento tão especial da viagem. E não se preocupem, se estamos aqui contando como foi é porque sobrevivemos tanto à temida altitude quanto as intermináveis e cansativas horas de caminhada.

A preparação já foi um desafio, restringir a bagagem para tantos dias a duas mochilas pequenas porque lá em cima qualquer quilinho a mais faz muita diferença, uma boa hora para aprender e experimentar o desprendimento material. Depois foi o deslocamento até o início da trilha.

Tínhamos a informação de que o ônibus de Kathmandu para Besisahar a aproximadamente 200 Km chegava a demorar 10 horas, mas não botamos fé. Pra quê? Dito e feito! Dez horinhas num baita calor, ônibus lotado, ouvindo mesmo CD de música nepalêsa, contornando as montanhas com a velocidade de 20 km por hora. Mas tudo bem. Vimos alguns acidentes no caminho que nos fizeram achar que mais rápido que isso poderia ser muito perigoso. De Besisahar para Syange, onde realmente começaria nossa caminhada.

Agora quantas pessoas vocês acham que cabem num ônibus? Ou num jipe? A resposta é depende do lugar. No Nepal, por exemplo, depois que superlota dentro superlota em cima também. E aí vai encarar um surfe automobilístico?


Bem, começamos nossa caminhada muito emocionados, imaginando o que nos aguardaria nessa jornada de tantos dias. Logo na primeira hora a primeira surpresa. Tivemos que parar e esperar uns 40 minutos porque os caras estavam detonando explosivos para restabelecer a passagem. É, toda hora tem deslizamento de terra e às vezes não dá pra passar. Realmente por essa não esperávamos. Nem que fossemos encontrar forças armadas, nem que presenciaríamos uma baita explosão como foi. E o medo de passar por ali depois?

Foi difícil criar coragem, muito pouco espaço, as pedras ainda instáveis... mas na seqüência a recompensa. As vistas começaram a ficar cada vez mais bonitas até atingirmos um dos vilarejos mais encantadores de todos, Tal onde dormimos a primeira noite. Exaustos e mortos de fome recuperamos nossas energias com um bom banho de balde e comendo um “Dal Bhat Set, que é a comida tradicional do Nepal. Consiste basicamente em arroz, lentilha e um curry de batata que eles comem com as mãos, o bom é que você pode repetir quantas vezes quiser pelo mesmo preço.

Depois de caminhar o dia todo nada mais reconfortante. No outro dia seguimos viagem, mais umas 7 horas de caminhada, subindo as montanhas do Himalaia. Vale a pena dar uma paradinha em cada vilarejo para observar como vivem as pessoas por aqui. O estilo é o mais rústico possível, a maioria do que chega aqui vem trazido por animais de carga ou pelas próprias pessoas. O engraçado é a forma como eles carregam, sejam produtos pra revender, sejam mochilas dos turistas, tudo é pendurado na cabeça.

Para atingir um recorde como esse camarada da foto tem que treinar desde pequeno. Nesse dia os lugares que mais nos marcaram foram Bagarchap e Thanchowk onde passamos a noite e tivemos um jantar muito especial à beira do fogão à lenha.

Até aqui as montanhas eram predominantemente verdinhas e adivinha o que é mato nas montanhas do Himalaia? Como dá para ver o que não é maconha é urtiga, não é brincadeira, cresce por todo lado. Falamos para o nosso companheiro de trilha nepalês que no Brasil isso era proibido e ele nos disse que aqui também é, imagina se não fosse...ah, e cuidado na hora de fazer xixi porque se não pode acabar com o bumbum queimado como aconteceu com a Aline(eta que raiva dessas urtigas desgraç...).


O terceiro dia de caminhada passa por precipícios e penhascos até atingir Pisang. Aqui a paisagem muda bastante e o verde é substituído por montanhas nevadas que serão nossas companheiras daqui pra frente.

De Upper Pisang se vê o Annapurna II, LINDO, enorme e se pode escolher duas formas de seguir viagem, uma mais curta e fácil por dentro da floresta ou outra subindo, mais difícil, mas com vistas incríveis.

Ficamos com a segunda opção. Não vamos falar muito, vamos mostrar o que muitas pessoas perdem com a pressa de chegar mais rápido. Se foi difícil, sim, foi a parte mais difícil da trilha até então, mas as melhores vistas também. Saímos super cedo, a melhor hora para ver as montanhas, porque logo que o sol começa a bater as nuvens se formam e já não dá pra ver muita coisa. Nosso café da manhã foi em Ghyaru a 3.730 m de altura, que momento.

Seguimos para Manang, que é o vilarejo com a maior infra-estrutura do percurso de ida, fica a 3.500 m acima do nível do mar. Aqui é recomendado um dia de aclimatação, ou seja, dormir duas noites no mesmo lugar, fazer pequenas caminhadas nas redondezas, ganhar altitude e voltar.

Lá conhecemos nossos novos amigos chilenos. Mais chilenos gente fina na nossa viagem. Carolina, Cristobal e Thomaz que foram nossos companheiros por mais alguns bons dias de caminhada. Enquanto para o Augusto estava tudo tranqüilo, mesmo tomando litros e litros de água a Aline começou a sentir a altitude.

Na primeira noite em Manang uma forte dor de cabeça e após dois dias, em Ledar uma sensação muito estranha, muito frio, inquietação, um sentimento parecido de quem está com febre, difícil de descrever, ficamos preocupados, com medo de ter que parar por aí. Fomos bem orientados de que se os sintomas aparecerem e permanecerem não se deve continuar. As coisas melhoraram e ao amanhecer do que seria nosso sétimo dia de percurso aconteceu pela primeira vez em nossas vidas...a neve!!!!

É, esperamos por 25 e 28 anos para vê-la pela primeira vez. Já tínhamos visto muito gelo por aí, mas nunca as estrelinhas brancas caindo do céu. Denovo que momento!!! Engraçado ver a diferença entre os trekers especialmente os europeus todos equipados, com roupas especiais para vento, neve, sticks profissionais e nós, os trekers tabajara. Nos cobrimos com nossas super-capas a prova de tudo que compramos por 6 reais, pegamos nosso cajado de madeira e saímos para enfrentar o penúltimo dia de subida de baixo de neve.

A última noite foi uma das mais legais, dormimos a 4450 m de altitude, ficamos jogando com a galera e tentando controlar a ansiedade para que ficasse tudo bem e conseguíssemos completar a passagem no dia seguinte. Foi a noite mais gelada de nossas vidas, pena que não tínhamos um termômetro para marcar a temperatura, mas fez frio como nunca antes havíamos sentido. O último dia foi o mais difícil, subida muito íngreme, pouco oxigênio disponível, a trilha coberta de neve em vários trechos, nos puxamos muito, a Aline achou que não ia conseguir, a cada poucos passos para cima o coração começava a disparar.



O tempo estava meio nublado, mas à medida que nos aproximávamos de Thorung La o céu foi se abrindo. Enfim o grande momento, alcançamos 5416 m de altitude. Conseguimos!!! O céu azulzinho e a vista perfeita. Novamente que momento!!!!!!!!! Valeu a pena, valeu cada minuto de subida, o cansaço, a ansiedade. Ficamos pouco tempo lá porque logo logo o frio começou a bater e tivemos que seguir, só que dessa vez para baixo.


O caminho de volta também é muito bonito, mas não tem a mesma magia, os vilarejos são um pouco maiores e há estradas até a penúltima parada antes de Thorung pass. Mesmo assim não podemos deixar de mencionar Muktinath e Marpha, como lugares muito especiais. Tatopani que é famosa por suas águas termais não nos pareceu nada de mais e foi por ali que terminamos nossa trilha no Himalaia.


Ao total foram 10 dias nos quais caminhamos cerca de 142 km. Em geral saíamos por volta das 6 da manhã e parávamos por volta das cinco da tarde. Passamos por vários vilarejos construídos com pedras, conhecemos muitas pessoas simples que vivem uma vida difícil, mas dão muito valor ao fato de estarem ali, no meio dos Annapurnas. Nos despedimos das montanhas passando por Pokhara e voltando para Kathmandu de onde seguimos para a Índia.

13 comentários:

Anônimo disse...

Amiga
estou muito orgulhosa de vcs, bah que coragem, só pessoas com espírito livre mesmo para conseguirem realizar esta aventura.
Beijos a vcs!! Muitas saudades!!

Mari Mendoza disse...

Essa aventura por enquanto foi a melhor de todas! Realmente muito corajoso de vocês encarar esta trilha e essa subida a pontos tão altos! Imagino toda a resistência necessária... Mas em compensação, a beleza que pude reparar pelas fotos fez o esforço valer a pena. Parabéns por terem conseguido!! Beijão!!

Anônimo disse...

EU DE NOVO!!!

AMIGA MUITA SAUDADE!!!!!

Carlos Teixeira - Horacio disse...

Preto, Aline!


Simplesmente do caralho!!! Muito louco a viagem e especialmente muito louco como vcs a descrevem no blog. Parabens e aproveitem muito!

Anônimo disse...

Ei amigos,valeu a forca. Essa valeu muito a pena, recomendo para quem gosta de caminhar. Emocionante! Valeu Camilam Mari,Eduardo, Horacio.

Unknown disse...

que maravilla, no saben lo contento que estoy al saber via su blog, de lo hermoso e interesante de los lugares que visitan.que bueno que esten conociendo mas chilenos en su viaje,siempre he pensado que los chilenos y brasileños nos llevamos bien porque nuestras diferencias nos unen. un abrazo cuidenseeee.

felix

Unknown disse...

que maravilla, no saben lo contento que estoy al saber via su blog, de lo hermoso e interesante de los lugares que visitan.que bueno que esten conociendo mas chilenos en su viaje,siempre he pensado que los chilenos y brasileños nos llevamos bien porque nuestras diferencias nos unen. un abrazo cuidenseeee.

felix

Duda Grill disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Duda Grill disse...

Aline e Augusto, fazia tempo que nao podia acompanhar a viagem de voces pq por aqui estava tudo muito " atropelado"! mas minha nossa, fiquei impressionada e ate mesmo abismada com esta ultima experiencia!! que coragem!!!a cada coisa que ia lendo , nao acreditava que poderia ser verdade e q realmente vcs estavam passando por isso tudo!!nao soh a coragem imensa de subirem as montanhas do himalaia mas tb oq passaram no nepal, q tristeza de ver como essas pessoas conseguem viver assim( mas tb se parar pra pensar nao eh tao diferente de mta gente por aqui no brasil nao eh verdade??)!!!enfim.. vcs estao!!e parabens por isso, vcs sao realmente pessoas iluminadas e mto admiraveis!!! enfim, a aline sabe que eh minha idola master e meu exemplo de vida( e ser humano)!!! continuem firme ae viu!!! mtos beijos !!!!!

Anônimo disse...

que beleza de aventura...
e que coragem a d vcs... acho q eu ficaria "cagada" de medo de morrer..
essas roupas q compraram p/se proteger do frio não eram pesadas a ponto de dificultar a caminhada/subida da trilha?
Beijos Dede

Anônimo disse...

Oi Dede!! As roupas nao dificultavam, a gente so comprou mesmo uma capa, a subida ja era dificil por natureza...mas a gente foi devagarzinho!!Beijos pra todos!!

Martha disse...

caracaaaaaaaa irmaaaaaaaaaaaaaa
q tesao essas fotos!
eu nao acredito q tu viu neve!!!! to chorando aqui soh de ver a foto!
nao vejo a hora de isso acontecer isso aqui comigo....
cara
q foda
q fodaaaa
nao consigo nem imaginar como ta sendo isso ai dentro de ti... mas nao vejo a hora de dar seguimento a minha trip across the universe.
saudade
te amo

Melina (MEL) Costa disse...

Caracaaaaaaaaaaaa!! Muito, muito, muito massa essas fotos!!! Tchê, vocês são realmente mto sortudos! Aproveitem esse banho de cultura!