quarta-feira, 2 de julho de 2008

Descobrindo o Rajastão

Nós brasileiros muitas vezes pensamos na Índia como um lugar místico, quase encantado. Talvez pelo fato de que a história que nos contaram do descobrimento do Brasil tenha a ver com a tentativa dos europeus de chegar nesse lugar distante. Buscar especiarias, tecidos, riquezas. Escolhemos experimentar um pouco mais dessa sensação e rumamos para o oeste. O Rajastão é a Índia dos famosos Marajás ou Maharajas, várias cidades foram importantes rotas de comércio e preservam essa atmosfera até hoje. Andar por aqui nos remete a tempos distantes devido aos turbantes, as roupas, alguns hábitos e arquitetura que permanecem os mesmos.

A primeira etapa foi enfrentar a estação de trem de Delhi. Geralmente as estações são assim por aqui, cheias de gente pelo chão, mas essa por ser na capital bate todos os recordes, quase não dá pra andar e comprar um ticket.

Chegamos a Jaipur, a famosa cidade cor-de-rosa (que na verdade esta mais para salmão). É a principal porta de entrada para quem chega ao Rajastão. Estávamos cansadaços e fomos para a primeira pousada recomendada pelo guia. Em geral a gente sempre dá uma pesquisada primeiro, porque a gente é brasileiro e não desiste nunca de tentar achar a opção mais barata.

Só que dessa vez precisávamos rápido de uma cama, dormimos e quando acordamos percebemos que não estávamos sozinhos. Durante todo esse tempo de Índia já perdemos as contas de quantos ratos diferentes vimos por aqui, mas foi a primeira vez que vimos um desses. Parecia albino, gordo, com um rabo curto e grosso, na verdade ele era quase rosado, estranho. Será que era porque ele era da cidade cor de rosa?

Jaipur é uma cidade murada, que obviamente hoje não se restringe mais à dentro dos muros. Tem uma arquitetura linda, palácio do Marajá, inúmeras lojas de sedas e couros, mas o que é imperdível é o cinema. O salão de entrada é enorme, todo iluminado, paredes decoradas com gesso e pintadas em rosa e azul bebê. É tão brega que fica bonito. O filme de Bollywood que assistimos foi Tasham, tão tosco que chega a ser engraçado.

Muitos filmes produzidos na Índia hoje em dia mostram mulheres com pouca roupa, homens sarados de regata e por aí vai. Coisas que não acontecem na realidade, talvez só em Mumbai. Legais são as musiquinhas e coreografias que ficam na cabeça depois. Estamos fãs de Bollywood por aqui, além de irmos ao cinema, sempre vemos um filminho no computador antes de dormir quando não saímos à noite. Durante o dia cantamos e dançamos o que aprendemos.

Próximo a Jaipur há uma cidadezinha chamada Amber, onde visitamos um forte famoso na Índia. Enorme, lindo, e adivinha o que estava acontecendo por lá? Gravação de vídeo-clipe e fotos para o CD. Ficamos acompanhando, muito engraçado, uma baita equipe em cima da cantora, bem pequenininha. Coitada, acho que ela tirou um zilhão de fotos na mesma posição. Depois de cada foto o maquiador vinha e penteava ela de novo. E ela só reclamava, “isso não é justo, não tomei nem café da manhã ainda”, e já eram umas 2 da tarde. Tá achando que vida de artista é fácil?


Na volta para a pousada eis que avistamos na estrada alguns elefantes. Eu, Aline nem pensei duas vezes, corri pra lá pra ver se seria possível dar uma voltinha. Não ia conseguir esperar até chegar à Thailândia com uma oportunidade dessas na minha frente. Eu estava tão empolgada que não percebi as intenções do “motorista de elefante”.

Primeiro ele foi todo o percurso me perguntando coisas do tipo se eu era casada, se tinha namorado... não dei muita importância porque na Índia isso é completamente normal. Aliás, todo mundo que te conhece te pergunta tudo sobre a sua vida nos primeiros cinco minutos. Achei que era mais um indiano normal e já estava mais desencanada de ficar na defensiva desde que saímos de Varanasi. Na hora de sair ele me perguntou se eu gostaria de sentar no pescoço do bicho para que eu mesmo “pilotasse”.

Ah, me emocionei, até que enfim havia chegado meu dia de motorista de elefante asiática. Subi louca de medo, meio nervosa, estava tentando me equilibrar quando percebi e quase não acreditei no que estava acontecendo. O safado tarado estava com a mão no meu seio literalmente apalpando, afofando, sei lá. Senti o sangue ferver na minha cabeça, nos primeiros 2 segundos fiquei sem reação, mas em seguida comecei a gritar, ali mesmo na cabeça do bicho. Daí me dei conta de onde eu estava e fiquei com medo do elefante se assustar e eu acabar caindo de lá. Respirei fundo e ainda tive que contar com a ajuda do sujeito para descer. Nesse momento o Preto já vinha chegando, começou a juntar uma galera, e eu lá soltando o verbo. O cara subiu no elefante e estava tentando se escapar, dizendo que só queria me ajudar para eu não me desequilibrar, o cara de pau. Chegou um coroa que mandou ele ser homem, descer de lá e deu uns bons cascudos nele.

É, por essa eu não esperava, o cara se aproveitar de uma situação perigosa para tirar proveito. Fiquei de cara, mas pelo menos não fiquei quieta. Esse tipo de coisa acontece toda hora e muitas mulheres não fazem nada porque ficam sem reação. Eu fiz um verdadeiro escândalo e só não fui à polícia de turismo porque nosso trem saiu naquela noite.
Para mim isso é uma demonstração clara do machismo que ainda é muito forte na Índia. Meu caso não foi um acontecimento isolado, com todo mundo que eu conversei aconteceu alguma coisa desse tipo. E no dia a dia chega a irritar também. Na rua quando algum homem passa perto de uma mulher a sua mão sempre dá um jeito de passar pela bunda dela. No trem, quando um homem se espreguiça o braço dele ”sem querer” encosta nos seios da mulher que está ao seu lado, e assim vai. Deve ser por isso que mulheres têm um vagão de trem só para elas, que só podem fazer massagem se for com outras mulheres, que se forem no ginecologista tem que ser médica.

Dizem que o machismo está melhorando nos últimos anos, bem como o sistema de castas. Pronto, chegamos ao assunto mais polêmico. Castas, divisão social característica da Índia, que mistura cultura e religião. Foi abolida da lei há alguns anos, mas continua acontecendo na prática. É um sistema muito difícil de entender principalmente para nós ocidentais que não temos nada parecido com isso. Eles acreditam que nascer em uma casta está relacionado com o que fizeram na vida anterior, o carma. Ou seja, quanto melhor for seu carma, melhor forem suas atitudes durante essa vida, maiores são suas possibilidades de nascer em uma casta superior na próxima. Se você não for muito bom corre o risco de voltar com a forma de um animal ou algo assim.

Portanto uma vez que você tenha nascido numa casta não deve querer mudar. Casta tem muito a ver com profissão também. Muitas vezes existem em uma casta famílias de músicos, comerciantes, lixeiros, que são assim há várias gerações. Perguntamos se uma pessoa de uma casta inferior poderia estudar muito e se tornar um médico, por exemplo. A resposta foi sim, mas seria um médico de pessoas da sua casta. Dificilmente uma pessoa de uma casta superior consultaria com ele e dificilmente ele teria como bancar seus estudos para se formar. E isso era lei. Uma forma de tentar deixar a sociedade estática, quem é rico é sempre rico e quem é pobre é sempre pobre, o carma explica e quase ninguém reclama. Conveniente não?

9 comentários:

Anônimo disse...

Meu Deus!!! Rato gigante dentro do quarto!!! Boto fé que eu ia dormir no chão da estação pra não dormir do lado do rato! eheheheheh
To imaginando vcs no meio da rua cantando e dançando as músicas... filma isso.. ehehehehe!!!
Uma ótima viagem pra vcs!
Henrique

Anônimo disse...

Oie!! Já estava ansiosa por mais notícias heheheh sigo acompanhando!!! Bj bj

Leonardo Rios disse...

Bah...é muito legal entrar no blog e ter uma história nova! Não tem como não ficar imaginando o que vocês contam!
Andar de elefante é sensacional! Tu chegou a subir um morro ou descer? Tensão total! Mas o bicho não se entrega!
Já tinha ouvido falar de Jaipur, parece que aí perto tem uma outra cidade que é toda azul, esqueci o nome! Ah...e porque é cor-de-rosa?
Show de bola! Bjs e abraços!

Anônimo disse...

Aline, que situação esta do elefante??!hahaha, Mas te defendesse isso aí!!!
Estou louca para saber da Tailândia, beijos milll para vocês!!!

Anônimo disse...

Henrique, rato na India 'e igual mosquito,tem em todo canto at'e no quarto!

Leonardo, a cidade azul chama-se Jodhpur. Segundo me contaram, Jaipur e rosada porque a cor representa boas vindas. Ha um bom tempo atras o maraja mandou pinta-la dessa cor para receber uma comitiva britanica, dai em diante mantiveram a tradicao de deixar a cidade cor de salmao.
Nao tem trator que ganhe de elefante. Sobe morro, carrega peso, anda na lama e atravessa rio. 4x4 movido a capim e banana!

Grande abraco pra voces que estao ai do outro lado

Anônimo disse...

Augusto e Aline,
Imaginem se essa moda de cidade rosa pega por aqui...?
Boa viagem e big abraços,
Thiers

Anônimo disse...

Aline e Augusto
Gente! q doidera esse negócio de casta. Fecha todas pq tem a ver c/hinduísmo, q é de lá. Segundo os hindus, tudo reencarna: humanos e animais. Será por isso que na Índia as vacas são sagradas: são a última forma física antes da perfeição espiritual? rsss
To aprendendo um monte c/vcs!!
Beijos Dede

Augusto disse...

A Vaca é sagrada pois significa saude, abundancia e generosidade que oferece muito sem pedir nada em troca. Eles tamb'em respeitam muito o animal por oferecer o leite e seus subprodutos muito utilizados na dieta dos indianos que 'e basicamente vegetariana.

Anônimo disse...

Marciano e Amelia saudades...
espero que estejam adorando a viajem dos sonhos de voces,lamentamos os incidentes que tiveram mais agora vai trancorrer tudo bem,ja estais restabelecida e agora é só alegria milhoes de beijos de Marciano e Dada