quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um dia de TPM em Varanasi

Toda mulher sabe o que é porque vira e mexe acontece, todo homem sabe como é porque pelo menos alguma vez já teve que lidar com alguma mulher nessa situação, a famosa TPM. Agora imagina acordar com uma TPM das brabas no dia em que você programou todas suas atividades em Varanasi... simplesmente acordar não, acordar às 4:30 da manhã para fazer o passeio de barco que foi combinado para o nascer do sol. Madrugar assim definitivamente não combina com TPM e piora se o cara resolve aparecer só às 5:40, depois que o sol já tinha nascido e a gente já tinha ficado uma hora esperando...mas, tentar manter o controle é fundamental, a final o dia estava só começando.

TPM pelo menos pra mim tem quatro formas principais de se manifestar, geralmente irritação exacerbada (qualquer coisinha irrita), tristeza sem explicação, ansiedade e uma vontade incontrolável de comer doces (principalmente chocolate). Geralmente esses sintomas aparecem se alternando durante um dia, mas podem resolver aparecer juntos e o que é pior, podem durar mais que 24 horas. Para sorte do Preto e de todos dessa vez foi só um dia, mas veio junto com uma coisa que tarda mas não falha, o primeiro piriri na Índia. TPM de lascar + piriri indiano devastador x estar em Varanasi = SOCORRO, será que alguém sobrevive?

A seqüência do dia foi a seguinte: após o atraso do barqueiro teve o episódio que contamos no post anterior, ver o corpo em decomposição flutuando no Rio Ganges próximo das pessoas que se banhavam alheias à situação. De volta à pousada, o café da manhã veio errado (rrrrrrr). Saímos pra conhecer os principais templos da cidade que teoricamente são de graça só que ao chegar lá tem uns caras que ficam na entrada para “tomar conta” dos sapatos e exigem pagamento na saída. O que irrita não é o fato de ter que pagar e sim porque na chegada a história é uma e na saída a coisa é diferente. No próximo templo a mesma conversa. Para aumentar a fúria foi só entrar e ver vários macacos doentes e famintos que ficam por lá porque é o Templo do Deus que tem cara de macaco. Ah, porque não cobra entrada então e cuida dos macacos??

De lá fomos à estação de trem comprar nosso ticket para o próximo destino e até que enfim parecia que uma coisa boa tinha acontecido. Uma fila só para mulheres que era bem menor que as outras. Entrei na fila e vi que a categoria não era apenas mulheres e sim mulheres e deficientes. Ah fiquei de cara, uma baita demonstração de preconceito e fiquei mais de cara ainda porque olha o estilo das mulheres na fila, só com os olhinhos de fora. O pior é que até eu tenho que andar bem coberta por aqui, o negócio não é mole. Muitos homens não podem ver uma ocidental que param e ficam olhando fixamente com uns olhos arregalados que dá até medo.

Ouvi muitas histórias para tomar cuidado principalmente em Varanasi porque os caras gostam de passar a mão. O que é pior é que em algumas situações se a mulher reage com um tapa ou algo assim pode levar outro. Acontece muito com mulheres experimentando roupas ou em filas. Fiquei ressabiada quando uns caras bem vestidos furaram a fila em que eu estava e ninguém reclamou. Resolvi ficar quieta porque queria manter a minha distância de mãos bobas e porque pensei que podia ser alguma coisa relacionada com castas. Estava nos meus primeiros dias e ainda não entendia muito bem o que as castas superiores podem ou não fazer, só sei que a brabeza crescia dentro de mim.

Resolvemos dar uma volta nos artesanatos locais para esfriar a cabeça, foi só entrar e apareceu um cara que grudou. Falamos que não precisávamos de guia e ele fingiu que não escutou. Pedimos mais algumas vezes, mas ele queria era que a gente entrasse na loja dele. Eu que já estava quase surtando, respirei fundo e falei, ”meu amigo se você não nos deixar em paz agora eu vou passar pela sua loja e não vou olhar. Já pedi, agora estou avisando”. O cara continuou. Ah, nem pensei duas vezes, quando chegamos virei o rosto e passei batida. Quem mandou não respeitar a TPM alheia?!

De lá fomos ao mercado de flores, que beleza, eu estava quase relaxando. Agachei para cheirar as flores do velhinho que estava posando para nossas fotos e de repente levei um baita tapa na cabeça. Dá pra ver os dedinhos na foto. Uma mulher passou e em vez dizer que eu não deveria cheirar as flores resolveu me aprontar essa. Não foi a primeira vez que apanhei nessa viagem, aconteceu anteriormente em Xi’an na China. A gente estava num parque olhando águas dançantes, era final de tarde e eu estava cansada. Acabei adormecendo e veio um guardinha que me deu uma cutucada das fortes, machucou. Acordei meio sem saber o que estava acontecendo e quando vi o guardinha não estava mais por ali. Não que eu fosse tirar satisfação, vai saber, de repente o cara me prendia. Bem, mas quem avisa amigo é: não cheire flores na Índia e não cochile em parques na China ou pode acabar dolorido.

Resolvi dar uma caminhada sozinha para ver se desestressava e o Preto queria ver como funcionavam as cremações. Definitivamente eu não estava mais interessada assuntos fúnebres. Acontece que a gente errou o caminho e acabei chegando sozinha ao principal Ghat de cremação. Pensei comigo mesma não deve ser por acaso que vim parar aqui, vou pelo menos observar como é. Não demorou 10 segundos para aparecer um homem dizendo que eu não deveria ficar ali pois aquele era o lugar das famílias e que eu deveria subir para o lugar destinado aos turistas.

Tentativa de golpe manjado pra extorquir dinheiro das pessoas. Segui meu rumo e vi que o Preto vinha chegando lá de longe. Fiquei esperando e veio outro cara com o mesmo papo. Falei curta e grossa que ali não tinha família nenhuma, que eu não ia sair dali e que estava esperando uma pessoa. Acho que falei num tom de quem diz não me incomoda senão vou dar piti e o cara aliviou.
Na volta pra pensão era tanta gente na rua, tanta vaca, tanta buzina, tanto barulho, cheiros, cores, empurrões, poluição sonora, olfativa, visual.

Depois de um dia desses eu olhava pros lados já meio tonta e todo mundo parecia louco. Eu já não acreditava mais no que estava acontecendo e todo mundo me abordado pra vender as sedas e os saris, e as rickshaws, ahhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!! É de enlouquecer, dá vontade de gritar mais alto que todos e dizer to bem louca, vocês conseguiram. Ou dá vontade de mandar parar tudo e acabar com tanta bagunça. Não consegui escolher nenhuma das opções porque nesse momento o piriri foi mais forte que tudo. Achei que não ia agüentar. Suei frio e foi por pouco que consegui chegar a tempo e evitar o pior. E assim acabou meu dia de TPM em Varanasi.
Hoje acho engraçado, mas sofri. Acho que todo mundo já teve um dia desses, em que parece que um estresse puxa o outro, mas felizmente isso passa. A seguir dias de Índia mais lights...

8 comentários:

Anônimo disse...

nice blog

Mari Mendoza disse...

Mas que perigo!! Mulher com TPM solta nessa loucura que parece ser a Índia... vixiii!! Dá até medo! hehehe. Eu imagino que ficaria tonta com tanta gente na volta, querendo e insistindo para vender suas mercadorias! As notícias da Índia estão sendo, para mim, as mais "chocantes" até agora. Corpos boiando, pessoas sendo cremadas em lugares públicos, macacos famintos, dentistas no meio da rua... tudo isso parece ser irreal. Infelizmente, é a realidade de muita gente. E nós não ficamos sabendo disso até vermos com os próprios olhos,.. ou através do olhar de vocês. Obrigada por compartilhar com a gente informações tão importantes! Aproveitem e se cuidem sempre! Beijos! Mari

Unknown disse...

ALINA!!! Que iraaaada tá tua aventura! São muitas experiências diferentes ao mesmo tempo, quanta coisa nova e interessante tás vendo!! Tudo de Bom pra voces, beijao Beto e família.
PS: o léo tá gigante!

Anônimo disse...

Aline.... Com tudo isso, acho q eu ficaria assim mesmo que não tivesse em TPM hahahaha bjs!!!!!

Anônimo disse...

uahueheuah

Ri demais. Uma coisa que queria saber: você descobriu porquê não se pode cheirar as flores?

Acho que teria comprado um punhado só pra cheirar na frente da mulher =p

Unknown disse...

hahaha, tadinha. Mas, que engraçado. Cada coisa...

Anônimo disse...

Ola!!Familia Santos comparecendo em peso no blog, que coisa boa. Valeu galera por continuarem nos acompanhando! Acho que as flores nao devem ser cheiradas porque sao sagradas, oferendas para os que serao cremados, mas e so um palpite. Um beijao!!!

Anônimo disse...

Mas se eu estivesse no teu lugar já estaria presa (rsss). Estás me saindo uma autêntica feminista e c/toda razão. Gente, eu não tinha a menor noção de como funciona esse país. Na verdade, só indo para saber como realmente é. Obrigada por compartilharem a experiência conosco. Beijos e fiquem c/Deus. Dede